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Onde o crime começa a acontecer

Expedição Os Caminhos do Tabaco – Contrabando

Por: Pedro Garcia, jornalista, e Alencar da Rosa, fotógrafo

É por uma estrada de chão batido estreita e irregular de quase 200 quilômetros de extensão que a maior parte dos cigarros contrabandeados ingressa em território brasileiro. Conhecida como linha internacional, a via que serve de marco divisório entre o Brasil e o Paraguai na altura do Mato Grosso do Sul é hoje um ponto-chave do mercado ilegal de tabaco no País.

Embora ainda seja expressivo o fluxo de mercadorias irregulares que chega ao Brasil por via fluvial – pelo Rio Paraná e o Lago de Itaipu –, os reforços na estrutura de repressão ao longo dos últimos anos na região de Foz do Iguaçu vêm levando cada vez mais os grupos criminosos a optarem pela fronteira seca sul mato-grossense. A Gazeta do Sul esteve ontem à tarde no município de Mundo Novo, que fica a 240 quilômetros de Foz e faz fronteira com a cidade paraguaia de Salto del Guairá. Por ali, o número de apreensões vem aumentando assustadoramente, chegando a uma média de uma carga interceptada a cada dois dias.

Diferente do que ocorre em Foz, onde após chegarem em embarcações os cigarros geralmente são colocados em automóveis, no Mato Grosso do Sul as quadrilhas se valem de veículos maiores, sobretudo carretas, mas também caminhões, que em muitos casos são roubados ou adulterados. Apenas este ano, foram cerca de 30 apreensões deste tipo. Uma carreta chega a carregar até 900 caixas de cigarros, o que representa 450 mil maços e cerca de R$ 2 milhões. Não é possível estimar, no entanto, quanto isso representa do fluxo real de contrabando – tudo indica que seja apenas uma fração.

Na linha internacional, o território brasileiro e o território nacional são separados apenas por uma faixa de vegetação baixa. Na maioria dos casos, assim que cruzam a fronteira, os veículos carregados – não raro escoltados por batedores armados – ingressam em uma das diversas vias vicinais que dão acesso à BR-163, rodovia com grande circulação de veículos de carga, já que por ali é escoada toda a safra de grãos do Mato Grosso.

O grande desafio das forças policiais é conseguir fazer a interceptação antes de a carga chegar à rodovia. “Quando chega na BR, se mistura com o fluxo normal e aí dificilmente é identificada”, observa Rodrigo Lara, que é chefe da equipe de vigilância e repressão da Receita Federal em Mundo Novo. Para conseguir fazer o percurso, os grupos se valem de uma grande rede de olheiros espalhados pelas estradas e que reportam, por meio de radiocomunicadores, a localização da repressão. A partir da 163, as cargas de cigarros são levadas para todos os cantos do Brasil, onde são distribuídas para os pontos de venda.

O roteiro
A região de Mundo Novo foi a última parada da expedição “Os caminhos do tabaco – Contrabando”. O roteiro começou no domingo, quando a equipe se deslocou de Santa Cruz do Sul até Foz do Iguaçu. Na cidade paranaense, acompanhou ações de repressão da Polícia Rodoviária Federal na BR-277 e junto à Ponte Internacional da Amizade, além de conhecer o recém-inaugurado Centro Integrado de Operações de Fronteira (Ciof). O retorno a Santa Cruz do Sul será hoje. O relato completo da experiência será publicado em um caderno especial na edição do fim de semana.

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