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O futuro que a Philip Morris vê para o cigarro tradicional

Texto: Pedro Garcia, Jornal Gazeta do Sul

Santa Cruz do Sul/RS – Uma das gigantes do mercado de tabaco, a Philip Morris chamou a atenção do planeta ao anunciar, na virada do ano, que vai interromper a venda de cigarros no Reino Unido. Embora surpreendente, a decisão já vinha se desenhando nos movimentos da multinacional que, atenta à queda no número de fumantes em escala global, passou a investir pesado no desenvolvimento de produtos alternativos e menos nocivos à saúde. Hoje, o carro-chefe do portfólio e grande aposta para os próximos anos é o Iqos, que oferece uma experiência semelhante ao cigarro, porém sem gerar fumaça.

Outras líderes mundiais do setor, como a British American Tobacco (BAT) e a Japan Tobacco International (JTI), também vêm apostando nos chamados “smoke-free” – cigarros eletrônicos e produtos de tabaco aquecido, como o Iqos, que ainda não é vendido no Brasil. Mas a Philip Morris é a única que banca o discurso de que o futuro do mercado passa pela substituição dos cigarros tradicionais.

Em entrevista exclusiva à Gazeta do Sul, o presidente da empresa no Brasil, Wagner Ener, disse que produtos como esses são alternativas melhores aos fumantes. “A mudança é uma responsabilidade compartilhada de todos os envolvidos nessa discussão”, falou.

Ainda não há unanimidade, porém, quanto aos riscos reduzidos desses produtos: essa semana, um comitê consultivo da Food and Drug Administration (FDA), órgão federal norte-americano equivalente à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), emitiu um parecer segundo o qual não há comprovação de que o Iqos causa menos doenças do que os cigarros. A aprovação da FDA é necessária para que o produto possa ser vendido nos Estados Unidos.

Na entrevista, Erne também comentou qual pode ser o impacto dessa transformação no mercado na demanda por tabaco in natura, que é o carro-chefe da economia do Vale do Rio Pardo, e na produção de cigarros tradicionais.

ENTREVISTA EXCLUSIVA

Wagner Erne – Presidente da Philip Morris Brasil

Gazeta do Sul – É seguro afirmar que cigarro eletrônico e tabaco aquecido são menos danosos à saúde do que o cigarro convencional?

Wagner Erne – Um número crescente de especialistas e agências governamentais concorda que a principal causa de doenças relacionadas ao tabagismo é a grande quantidade de tóxicos gerada pela combustão do cigarro e inalada pelo fumante. Ao eliminar a combustão há uma redução significativa da formação dessas substâncias. Não estamos dizendo que nossos produtos são livres de riscos – o que estamos dizendo é que existe um conjunto de evidências científicas que nos permite afirmar que esses produtos são melhores alternativas para adultos fumantes do que continuar fumando cigarros. A PMI tem uma ciência robusta com mais de 750 estudos sobre o tema e há pelo menos 15 estudos independentes cujos resultados apontam na linha da redução de risco.

Gazeta – Um comitê consultivo da Food and Drug Administration (FDA) emitiu um parecer essa semana segundo o qual não há comprovação de que os produtos alternativos causam menos doenças do que o cigarro tradicional. Como a empresa recebeu essa notícia?

Wagner Erne – O Comitê Consultivo Científico de Produtos do Tabaco (TPSAC) do FDA se reuniu nos últimos dias 24 e 25 para debater o pedido de registro de Iqos como Produto de Tabaco de Risco Modificado (MRTPA). Seguimos encorajados pelo reconhecimento do potencial de redução de risco do Iqos que emergiu claramente das declarações dos membros do Comitê. Continuamos confiantes em nossa capacidade de endereçar as válidas questões levantadas, enquanto o processo de revisão para o nosso pedido continua. Importante ressaltar que esse é um passo do processo de revisão que, embora exigido pela lei americana, não é vinculativo, ou seja, o FDA considerará todas as informações relevantes à disposição ao emitir sua decisão.

Gazeta – A redução no número de fumantes em escala global é o que está levando a empresa a apostar tão fortemente nos produtos alternativos?

Wagner Erne – A própria OMS reconhece que ainda haverá mais de 1 bilhão de fumantes até 2025. Este é aproximadamente o mesmo número de fumantes atualmente. Hoje temos ciência e tecnologia que nos permitem oferecer alternativas melhores do que o cigarro para adultos fumantes. É nossa obrigação disponibilizar informação e acesso a esses produtos que podem impactar positivamente a saúde pública. Nossa visão de construir um futuro sem fumaça não significa construir um futuro sem tabaco. Nosso principal produto de risco reduzido é um produto que contém tabaco, o que reforça nosso compromisso com a cadeia produtiva do tabaco no Brasil.

Gazeta – A decisão de suspender a venda de cigarros no Reino Unido deve ser tomada em outros lugares em um futuro próximo?

Wagner Erne – A iniciativa do Reino Unido reforça o compromisso global de longo prazo da PMI de substituir cigarros por produtos de risco reduzido, como produtos de tabaco aquecido, que são melhores alternativas para os adultos fumantes do que cigarros. Esses produtos já estão disponíveis em mais de 30 países e o Brasil tem a oportunidade já nas próximas semanas de reconhecer a categoria de tabaco aquecido na revisão da regulamentação que trata do registro de todos os produtos de tabaco no Brasil (RDC 90 da Anvisa).

Gazeta – Outras empresas do setor de tabaco adotam uma posição mais cautelosa quanto à substituição do cigarro. O que encoraja a Philip Morris a investir tanto nesses produtos?

Wagner Erne – Na indústria, nós na PMI somos reconhecidos como pioneiros e temos muito clara a ambição de que um dia todos os cigarros sejam substituídos por produtos sem fumaça que são uma alternativa melhor para os adultos fumantes. Há mais de dez anos, pesquisamos e investimos mais de US$ 3 bilhões nos últimos anos no desenvolvimento de um portfólio de produtos de risco reduzido. Temos mais de 300 cientistas de diversas áreas trabalhando em nossos centros de pesquisa na Suíça e em Singapura. Também nos sentimos encorajados por outras empresas que estão começando a mudar seriamente seu foco também para os produtos sem fumaça. A mudança é uma responsabilidade compartilhada de todos os envolvidos nessa discussão.

Gazeta – A Philip Morris possui uma fábrica de cigarros em Santa Cruz do Sul. Com essa tendência de migração para produtos alternativos, a produção de cigarros da empresa no Brasil pode ser afetada?

Wagner Erne – É importante reforçar que a fábrica da Philip Morris Brasil localizada em Santa Cruz do Sul é uma das operações mais completas que a PMI possui no mundo. Nos últimos anos a empresa investiu mais de R$ 120 milhões na centralização das operações industriais e na instalação do SuperLab, um dos nossos mais modernos laboratórios no mundo. Esses investimentos mostram a importância que a empresa dá ao município e o seu comprometimento com o Estado do Rio Grande do Sul. Esses investimentos associados ao tabaco de altíssima qualidade produzido no Brasil permitem que o País tenha maior representatividade no mercado internacional, principalmente no que tange à exportação de cigarros manufaturados. Podemos destacar ainda que a conversão das fábricas de alguns de nossos mercados para a fabricação de produtos de risco reduzido possibilitou novos volumes para o Brasil, não só em termos de novos negócios, mas também em  produtividade, além de elevar a capacidade produtiva de nossa fábrica e, no futuro, até gerar novas oportunidades de empregos para a região.

Gazeta – O cigarro eletrônico não possui tabaco na composição, enquanto o Iqos possui menos tabaco que um cigarro tradicional. A demanda por tabaco in natura pode diminuir com o crescimento desses produtos tradicionais?

Wagner Erne – A empresa não divulga a quantidade e origem dos tabacos utilizados em seus produtos por questões estratégicas. Para seu maior entendimento sobre as diferenças, é importante frisar que o tubo de tabaco usado em Iqos contém tabaco processado e exclusivamente projetado para ser aquecido, não queimado. O plugue de tabaco é feito a partir de folhas de tabaco, que são trituradas e posteriormente reconstituídas em lâminas de tabaco. Estas lâminas são então frisadas e transformadas em um plugue de tabaco. Nós não visualizamos impactos significativos nos requerimentos de tabaco no curto e médio prazo. Fazer previsões de longo prazo seria meramente especulativo nesse momento. De qualquer maneira, estamos dedicados e sempre estaremos trabalhando junto às comunidades produtoras de tabaco para buscar oportunidades e auxiliar no gerenciamento de potenciais impactos que possam surgir no longo prazo.

Gazeta – O cigarro eletrônico é proibido no Brasil desde 2009. Qual a expectativa realista da empresa em relação à liberação dos produtos alternativos no País?

Wagner Erne – Primeiramente é importante esclarecer que os produtos de tabaco aquecido não são cigarros eletrônicos, principalmente em razão de sua composição, uma vez que um contém tabaco (tabaco aquecido) e o outro não contém tabaco (cigarro eletrônico). A regulamentação que trata do registro de todos os produtos de tabaco está em processo de revisão através da revisão da Consulta Pública 314/2017 da Anvisa. Esperamos que ela reconheça a categoria de tabaco aquecido e estabeleça critérios claros para o registro desses produtos e acompanhe a tendência mundial para oferecer aos milhões de adultos fumantes brasileiros informação e acesso a produtos de tabaco de risco reduzido, que são alternativas melhores do que cigarros. É fundamental que a Anvisa, que atualmente autoriza a venda de cigarros, permita aos mais de 20 milhões de adultos fumantes brasileiros o acesso a produtos de tabaco sem combustão.

Gazeta – A Anvisa recentemente editou uma resolução que cria uma série de novas restrições para a exposição de cigarros nos pontos de venda. Como a empresa avalia essas novas regras?

Wagner Erne – Estamos analisando o texto integral publicado no dia 24 de janeiro para verificar as medidas a serem tomadas. Mas é importante destacar que todas as ações que promovemos nos pontos de venda seguem rigorosamente a regulamentação em vigor.

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