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Especial: Uma vida entre o tabaco na Ásia

Omar Biesdorf
Omar Biesdorf

Santa Cruz do Sul/RS – O Sul do Brasil exporta um dos melhores tabacos produzidos em âmbito mundial. Mas não se limita só a esse tipo de interação com o cenário global. Compartilha também com dezenas de outras nações a competência de milhares de profissionais, das mais variadas áreas, que se especializaram ou aperfeiçoaram no ambiente de produção, de processamento e de gerenciamento dos grandes polos dessa atividade. São trabalhadores que foram disputados ou atraídos por diferentes regiões de cultivo no planeta e deram contribuição valiosa para o estreitamento de laços comerciais e culturais.

O exemplo do santa-cruzense Omar Biesdorf, hoje com 68 anos, é perfeito para ilustrar a determinação de perseguir sonhos e expandir horizontes pessoais graças ao tabaco. Recém-formado em técnicas agrícolas, Biesdorf, nascido no então distrito de Sinimbu – pertencente a Santa Cruz e atualmente município -, ingressou nessa cadeia produtiva através da empresa Souza Cruz, em 1969, quando passou a integrar o Departamento Agronômico. Na companhia permaneceu até 1997, respondendo em especial pelo desenvolvimento de tecnologias na variedade Burley. Foram muitas visitas a campo, em contribuição, ao lado dos colegas de equipe, para disseminar técnicas e estratégias que se mostraram decisivas na modernização do cultivo no Sul do Brasil.

Mas Biesdorf mirava horizontes no exterior. A convite da Standard Commercial Tobacco, em janeiro de 1998 alçou voos rumo ao distante Sudeste Asiático. Integrado como profissional à Siam Tobacco Export Corporation (ou Stec), estabeleceu-se na Tailândia, onde a produção de tabacos Burley apresentava deficiências na qualidade. Os conhecimentos de Biesdorf foram requisitados por produtores e empresas, tendo se mostrado valiosos, por anos, na difusão de tecnologias que já eram adotadas no Brasil e em outras nações.

Além de atender rotineiramente às demandas tailandesas, sob orientação ainda da Philip Morris, que adquiria a produção daquelas regiões, passou a estender cada vez mais seu raio de ação, ao longo de oito anos de presença no outro lado do mundo. A família alternava-se entre temporadas no Brasil, estabelecida em Santa Cruz, e visitas a Omar, na Ásia. Ele próprio vinha rever familiares e parentes em épocas de férias. Em entrevista ao Portal do Tabaco, Biesdorf lembrou que de imediato se ajustou ao ritmo de vida e aos hábitos culturais e de alimentação asiáticos, o que foi determinante para sua longa permanência na região.

Omar Biesdorf (de boné azul, à esquerda) em lavoura de tabaco na Tailândia
Omar Biesdorf (de boné azul, à esquerda) em lavoura de tabaco na Tailândia

DE PAÍS EM PAÍS

Ao longo dos anos, já como gerente da Stec em Burley para o Extremo Oriente, fez grandes amizades e colaborou para o bom desenvolvimento da atividade do tabaco na Tailândia, no Laos, na China e no Vietnã, cuja maior parte de Burley (e também de Virgínia) é exportada, para o mundo todo. Graças às parcerias comerciais, atendeu igualmente regiões e negócios de outras empresas globais. Foi o caso da Vietnam Tobacco Import Export Company (Vinataba), que encontrava, na época, dificuldades para exportar por conta da qualidade das folhas.

“Nesse período eu chegava a passar três ou quatro dias por semana no Vietnam”, rememora. E igualmente atravessava em barco o gigante Mekong, um dos maiores rios do mundo, para realizar encontros com produtores de tabaco do Laos. “Foi possível conferir uma melhora sensível imediata na qualidade do tabaco daquela região”, enfatiza. Hoje, segundo ele, a produção encontra-se estável, com sinais de algum incremento, por conta da demanda internacional.

No Vietnam, em particular, o tabaco Burley a princípio apresentava excelente aspecto visual, com folhas muito bonitas, mas demonstrava deficiências no sabor, o que igualmente se verificava no Virgínia. “Era um tabaco basicamente para o que se chama de ‘filler”, ou seja, para enchimento do cigarro, e não para o “flavor”, para dar sabor, e que é o mais valorizado”, salienta. “Com o tempo, evoluíram para um excelente produto final”, afirma. Biesdorf comenta que o Vietnam, pelo clima, caracterizado por temperaturas altas associadas a muitas chuvas, colhe folhas muito macias, diferenciadas, tanto em lavouras das áreas baixas quanto nas encostas das montanhas. “Para se ter uma ideia, as folhas do baixeiro de lá podem ser classificadas com o C daqui, o meio pé”, frisa.

Omar Biesdorf (capinando) ensina técnicas de cultivo de tabaco a produtores chineses
Omar Biesdorf (capinando) ensina técnicas de cultivo de tabaco a produtores chineses

AS VISITAS AO PARAÍSO

O prolongado e desafiante vínculo com o distante Sudeste Asiático não pôde mais ser interrompido por seu Omar Biesdorf sequer quando encerrou as atividades naquela região, em 2005. Depois de um período de descanso em Santa Cruz do Sul, em 2007 constituiu uma importadora, e desde então se dedica, quase em ritmo de hobby, a visitar seu anterior ambiente de trabalho para adquirir artesanato, com que abastece alguns clientes no Sul do Brasil. Por pelo menos três meses a cada ano (“de preferência no inverno, com o qual não me acerto bem”, brinca), viaja para rever cidades e amigos. E já está com a agenda estruturada para 2015.

Em Santa Cruz do Sul, em algumas lojas os consumidores podem adquirir artigos diferenciados e escolhidos a dedo, que ele vai buscar diretamente em Bali, uma das ilhas da Indonésia, próximo a Java, um dos mais prestigiados centros de compras no planeta, ou mesmo no gigantesco mercado central da cidade chinesa de Yiwu. Durante o veraneio, ele próprio se instala com loja em Tramandaí, no Litoral, e surpreende turistas com objetos de encher os olhos.

A cada nova viagem, na paradisíaca paisagem do Sudoeste Asiático, que afinal foi seu lar por oito anos, Biesdorf realimenta a convicção de que, assim como o tabaco brasileiro ganha o mundo, a cadeia produtiva do tabaco abre as portas do mundo para todos aqueles que acreditam em seus sonhos.

Romar Beling
romar@editoragazeta.com.br
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