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El Niño exige atenção especial dos produtores de tabaco

Santa Cruz do Sul/RS – O inverno de 2015 terá temperaturas e chuvas acima da média na Região Sul do Brasil, com destaque para os meses de agosto e setembro. Isso porque o inverno está sob influência do fenômeno climático El Niño. As pesadas chuvas das últimas semanas são efeito desta variável. Sob este cenário, produtores de tabaco devem ter cuidados especiais na conservação do solo, manejo da cultura e, continuada a tendência, sobre a adubação.

A safra 2014/15 ocorreu sob efeito do fenômeno, mas de fraca intensidade, enquanto atualmente ele ocorre de forma mais intensa. “Houve alguma anormalidade pontual, com índices pluviométricos acima da média em algumas regiões, mas na temporada 2015/16 o El Niño é mais forte”, pontua Iraldo Backes, engenheiro agrônomo, gerente técnico da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra).

Darci José da Silva, engenheiro agrônomo e assessor técnico do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), destaca que as precipitações que vêm ocorrendo em altos volumes preocupam pelos danos que podem gerar ao solo desprotegido. “Não há como evitar estes fenômenos naturais. Então, cabe ao agricultor se precaver utilizando as técnicas indicadas pela pesquisa e pela assistência técnica”, observa.

As práticas conservacionistas indicadas há muito tempo pelas entidades da fumicultura e assistências técnicas, adotadas por parte dos agricultores, pregam a proteção ao solo com cultivos de cobertura, a chamada adubação verde. “Sem um plano de conservação, a terra desnuda estará sujeita à erosão sob grande volume de chuvas e enxurradas. Desta forma, além da perda física do solo, da camada agricultável, perde-se nutrientes e a fertilidade natural, o que terá consequências no manejo do solo, mão-de-obra e custos”, explica Darci José da Silva.

Segundo o assessor do SindiTabaco, quem utiliza o cultivo mínimo ou plantio direto e prepara a terra de acordo com as recomendações, diante do atual quadro climático, reduz o risco de perdas e está em vantagem sobre o agricultor que não procedeu desta forma. Do comportamento do fenômeno dependerão os cuidados que devem ser tomados no manejo da cultura.

Se as chuvas continuarem no período de transplante das mudas, ocorrerá perdas de nutrientes que demandarão reposições. Afora isso, o clima adverso gera a perspectiva de uma safra fora da normalidade, ou seja, a tendência de que parte das plantas tenha menor rendimento. “A qualidade nem sempre será afetada, mas a produtividade sim. Sob essa condição, as folhas baixeiras costumam apresenta perdas pois, próximas do solo, se deterioram com chuva e umidade”, revela.

DOMÍNIO

Iraldo Backes, da Afubra, também prevê maiores custos e demanda de mão de obra com os processos de manejo, em especial a fertilização. “A chuva ‘lava’ a lavoura e leva embora boa parte dos fertilizantes aplicados, exigindo que o produtor reponha tais insumos para não perder qualidade e produtividade”, exemplifica. Para o gerente técnico da Afubra, diante deste clima atípico o agricultor deve ter domínio dos tratos culturais recomendados e o momento correto de proceder, para que o pé de tabaco cresça de acordo com seus padrões referenciais e produza folhas de tamanho e textura desejável.

Se não repuser os nutrientes, o fumicultor corre o risco de produzir um tabaco mais leve. Além disso, pode haver efeito na qualidade, pois numa planta fraca, quando a folha é curada pode ficar mais clara, puxando mais para uma cor limão, pouco valorizada no momento da comercialização. Para ser valorizada ela deve ser cor-de-laranja e ter peso consistente.

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Preparo adequado da terra reduz risco de perdas com o excesso de chuvas (foto: Inor Assmann/Editora Gazeta)

 

OS DANOS

> Chuvas em excesso e enxurradas geram perdas físicas e químicas de solos desprotegidos.

> Precipitações acima do normal também provocam a lixiviação dos insumos, especialmente os adubos, ou seja, a chuva lava a lavoura e leva embora os fertilizantes, entre outros insumos.

> As folhas do baixeiro, mais próximas ao solo, são as mais atingidas pela umidade, gerando perdas ou agindo como porta de entrada de patógenos.

> Sem a adequada quantidade de fertilizantes, as plantas crescem mais fracas, e não geram a produtividade esperada. Além disso, em alguns casos, pode ocorrer perda de qualidade das folhas.

> Com necessidade de adquirir mais insumos, reaplicar e realizar as práticas de manejo muitas vezes fora do tempo ideal, o agricultor tem mais custos e corre mais riscos de obter uma safra abaixo do esperado em qualidade, produtividade, produção e renda.

 

AS PRINCIPAIS INDICAÇÕES

Cultivo mínimo – Uma das práticas indicadas pelas assistências técnicas, entidades e centros de pesquisas é o cultivo mínimo. Neste sistema, ao invés de movimentar toda a terra da lavoura, o agricultor só forma os camalhões onde será inserido o adubo e plantada a mudinha.

Plantio direto – Muito praticado no Sul do Rio Grande do Sul principalmente com as variedades de Virgínia, o método consiste na formação dos camalhões em fevereiro e março, no final da safra anterior. Sobre estes camalhões é feita a semeadura de adubação verde durante o inverno, em geral aveia. Pouco antes do transplante das mudas, a aveia é dessecada e as mudinhas plantadas diretamente sobre a palha. O método é uma das principais ferramentas conservacionistas de solo.

Adubação escalonada – Outro método que pode ser adotado é a aplicação escalonada da fertilização. No lugar de concentrar o uso do NPK mais o salitre do Chile, para evitar que a chuva forte “lave” a lavoura e provoque a perda dos insumos, o produtor parcela em duas ou três vezes a aplicação. Dá mais mão de obra, mas reduz o risco de perda total dos insumos e ter de recomprá-los e reaplicá-los. Parcelados, em pelo menos duas vezes, o produtor ainda salvará metade do volume para a segunda aplicação e não deixará a planta sem a fertilização adequada.

Cleiton Santos
cleiton@editoragazeta.com.br
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