E o fumo em corda ainda gira em Arapiraca
|Santa Cruz do Sul/RS – Ainda que esteja presente em várias outras áreas do Brasil, incluindo a região de Sobradinho, no Centro-Serra do Rio Grande do Sul, é no Nordeste, em especial no interior de Alagoas, que o fumo em corda tem os registros mais dinâmicos de sua já longa história. A produção desse tipo de tabaco, bem como os processos de fabricação da corda e o consumo do produto, na apreciação do palheiro, estão profundamente arraigados na cultura regional, onde se firmaram por séculos. E, apesar dos recuos significativos em volumes de produção e de comércio, a atividade segue cumprindo papel relevante sob o aspecto econômico, na geração de renda e de empregos.
A produção de variedades para obtenção do fumo em corda já chegou a envolver 30 mil hectares nos arredores de Arapiraca, cidade de 230 mil habitantes localizada a 130 quilômetros da capital, Maceió, e que constitui o grande polo da cultura no Estado. Mas o presidente do Sindicato Rural do município, José Adailton Barbosa Lopes, refere que a diminuição foi drástica nas últimas décadas. Até os anos de 1970, a cidade era conhecida em âmbito nacional como a “Capital do Fumo no Nordeste”, mas o incremento na demanda do cigarro industrializado no Sul do País provocou a derrocada de boa parte dos negócios.
Hoje, calcula Adailton, em entrevista por telefone ao Portal do Tabaco, a atividade mantém cerca de 10 mil hectares por safra, tomando por base números de 2014. Já não é a mesma área de outros tempos, mas nem por isso é desprezível ou menos expressiva, considerando-se que entre 3 e 4 mil famílias continuam obtendo o sustento diretamente da cultura. “As coisas só não estão melhores para esse pessoal pois o preço anda muito baixo”, comenta Adailton, que há muitos anos, como dirigente sindical, testemunha o comportamento do mercado. “Infelizmente, os produtores recebem praticamente a metade do custo de produção, e só seguem plantando fumo porque não têm outra alternativa, na pequena propriedade”.
PARA DOIS ANOS DE CONSUMO
De certo modo, é justamente o fato de não haver opção (campanhas de diversificação mantidas ao longo dos anos por organismos governamentais não conseguiram prospectar nenhuma alternativa realmente viável) o que atrapalhou o setor. Em 2014, havia estoque remanescente de fumo em corda dos anos anteriores, calculado em 3 milhões de quilos por Adailton. Como o clima foi bastante favorável, em virtude das chuvas persistentes, as lavouras renderam mais do que o previsto, e a última safra fechou em 12 milhões de toneladas.
O que parecia excelente para o produtor acabou se revelando um contratempo, pois, com grande oferta, o mercado pressionou os preços para baixo. “Nosso estoque hoje seria suficiente para dois anos de consumo, sem produção adicional”, refere. O consumo é estimado em 600 mil quilos por mês. Em decorrência, o mercado pratica valores que vão de R$ 6,00 a R$ 8,00 por quilo, quando o mínimo para cobrir o custo deveria estar em R$ 10,00 a R$ 12,00, diz Adailton. “Na verdade, teria de estar a R$ 15,00 para dar ao produtor uma mínima folga para investimento”.
Esse cenário faz com que a próxima safra, cujo plantio se inicia em maio, seja uma completa incógnita, em termos de área de cultivo. “O que se sabe é que alternativas são poucas”, adverte o presidente do sindicato. Nas pequenas propriedades dominantes na região, há quem mantenha plantações de mandioca, amendoim, inhame, abacaxi ou feijão de corda; no entanto, a demanda é limitada. “Para muitas delas não temos nem cultura nem clima”, frisa Adailton. A cultura regional e a especialização no cultivo de tabaco falam mais alto. E, por outro lado, empresas como Curinga e Maratá, de expressão nacional, seguem distribuindo o tabaco em todo o País.
“NÃO VAI ACABAR AMANHÔ
A colheita do tabaco na região de Arapiraca ocorre entre o final de agosto e o final de setembro. Posteriormente, em etapa que se estende até o final de novembro ou a dezembro, as famílias se ocupam da confecção dos rolos, com a lenta cura, já no formato de cordas. Esse processo dura cerca de 80 dias, e implica em extrair a água, inclusive ao sol.
Em anos anteriores havia muitos empregadores na atividade: eles contratavam mão de obra para a realização dos trabalhos, na lavoura e depois dela. “Hoje, são praticamente só famílias que cuidam de tudo”, comenta Adailton. Mesmo que já não tenha a expressividade econômica e social de outros tempos, o sindicalista entende que os governos estadual e federal precisam levar em conta a receita que ainda é gerada por essa atividade.
Afinal, como estima, o fumo em corda ainda movimenta cerca de R$ 50 milhões por ano na economia da região, composta por 10 municípios produtores e que compreendem população de 500 mil habitantes. “Claro que é um setor que passa por dificuldades, mas também é mais do que certo de que não vai acabar amanhã”, arremata.
Romar Belingromar@editoragazeta.com.br
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Atte. Jonathan de Oliveira
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