Download!Download Point responsive WP Theme for FREE!

Solenidade marca nova fase de programa voltado à aprendizagem rural

Santa Cruz do Sul/RS – A agricultura ainda ocupa o maior número de crianças e adolescentes de forma irregular no Brasil, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados na última semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na faixa etária entre 14 a 17 anos, o número de irregularidades apontadas foi proporcionalmente maior no Sul, representando 16,6% da população desse grupo de idade na região.

Mas é também no Sul do País que uma iniciativa pioneira está tomando forma e já serve como case de sucesso para setores do agronegócio brasileiro e para outros países que lutam na erradicação do trabalho infantil. O modelo adotado pelo Instituto Crescer Legal faz com que as cotas de aprendizagem saiam das fábricas e vão para o campo. Com isso, os jovens são remunerados para aprender sobre gestão rural sem sair de suas comunidades e ficam longe do trabalho infantil.

A iniciativa também resolve a questão da evasão escolar, uma vez que os jovens precisam estar na escola para frequentar o curso no turno inverso. “Temos relatos de jovens que voltaram a estudar para poder participar e isso é muito gratificante”, relata o diretor-presidente do Instituto, Iro Schünke. Segundo ele, em 2018 as atividades continuam nos cinco municípios do piloto, mas em diferentes localidades, e serão ampliadas para outras duas cidades: Boqueirão do Leão e Sinimbu, também no Rio Grande do Sul.

O piloto do Programa de Aprendizagem Profissional Rural foi a primeira grande ação do Instituto Crescer Legal, criado em abril de 2015. As atividades do curso “Empreendedorismo em Agricultura Polivalente – Gestão Rural” iniciaram em 2016 e finalizaram em 2017 com a certificação de 84 jovens de cinco municípios. Com idades entre 15 e 18 anos, eles foram contratados como aprendizes pelas empresas associadas ao Instituto, recebendo remuneração e certificação de acordo com a Lei de Aprendizagem (Lei 10.097/2000 e Dec. 5598/2005).

Segundo a consultora do Instituto Crescer Legal, Ana Paula Motta Costa, a história do Instituto começou a partir das empresas de tabaco, mas contou com muitas parcerias nas comunidades em que atua e também regionalmente.

“Quando pensamos neste projeto voltado ao meio rural, tivemos que contar com a sensibilidade e o respaldo de pessoas ligadas ao Ministério do Trabalho, uma vez que este modelo ainda não estava previsto pela Lei da Aprendizagem, que até então estava mais voltado a cotas de aprendizagem no meio urbano. Construir uma proposta pedagógica atrativa aos adolescentes, especialmente do meio rural, foi outro grande desafio. Foram muito os aprendizados neste período de piloto, mas estamos satisfeitos com os resultados e queremos continuar contribuindo para construir soluções no combate ao trabalho infantil no meio rural”, relata.

FORMATURA – A última turma do piloto foi formada, em Santa Cruz do Sul, nessa quinta-feira, dia 7, em solenidade no Auditório do Memorial da Universidade de Santa Cruz do Sul. Na ocasião, 17 jovens aprendizes do distrito de Boa Vista e outras localidades do interior de Santa Cruz do Sul, receberam seus certificados.

As atividades do curso iniciaram no dia 16 de novembro de 2016 e foram realizadas nas dependências da Escola Estadual de Ensino Fundamental Guilherme Simonis, na localidade de Linha Boa Vista, pela educadora Graziele Pinton, que classificou a oportunidade como uma experiência de sem igual. “De psicóloga à educadora social, eu também me transformei. Esta formatura não marca somente a conclusão do curso, mas é uma ponte para diferentes caminhos. Que a gente possa continuar a fazer boas escolhas, acreditando que nada é por acaso”, agradeceu.

As oradoras da turma, Denise Faust e Fernanda Hauth, colocaram a experiência em retrospectiva e destacaram a aproximação com a família e a propriedade. “As atividades não só envolviam os aprendizes, mas também as famílias. Contar com o auxílio de nossos pais foi maravilhoso, pois muitos se aproximaram nesses momentos e descobrimos características da nossa vida que não sabíamos, conhecemos e contamos nossa história”, avaliaram, agradecendo ao apoio dos familiares, a iniciativa do Instituto e, em especial, a orientação dada pela educadora, Graziele, que recebeu uma recordação dos aprendizes como forma de homenagem por sua dedicação.

A madrinha da turma, a auditora fiscal do Ministério do Trabalho e coordenadora do Fórum Gaúcho de Aprendizagem Profissional (FOGAP) e do Fórum Estadual de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FEPETI), Denise Brambilla González, falou sobre a importância e o ineditismo do programa. “Essa foi uma turma especial, que encantou auditores fiscais de oito países e fico orgulhosa de ser madrinha de vocês. Aproveitem essa oportunidade, trilhando novos caminhos, acreditando e insistindo em seus sonhos. Não posso deixar de reconhecer o empenho do Instituto Crescer Legal e as empresas apoiadoras, que foram além de cumprir as cotas de aprendizes, mas entenderam a importância desse movimento”, reforçou.

Além das cotas das empresas Alliance One e Universal Leaf Tabacos, em Santa Cruz do Sul, o curso em Santa Cruz do Sul contou com recursos doados ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Comdica) e teve ainda o apoio da 6ª Coordenadoria Regional de Educação (6ª CRE) e da Secretaria Municipal de Educação.

“A experiência nos trouxe muito aprendizado. Mostrou que precisamos trabalhar melhor a proposta pedagógica das nossas escolas, independentemente de ser da zona urbana ou rural. Temos um grande desafio pela frente para que possamos cada vez mais fortalecer as nossas relações. Nossas equipes diretivas tiveram oportunidade de reunir os jovens e fazer uma avaliação da metodologia do curso. E os resultados foram surpreendentes com relação à postura empreendedora dos jovens. Temos conversados para avançar no sentido de rever questões operacionais, que precisam ser adequadas a esta nova realidade. Certamente seremos parceiros em 2018”, avaliou o coordenador da 6ª CRE, Luiz Ricardo Pinho de Moura.

Jaqueline Marques de Souza, secretária Municipal de Educação e Cultura, afirmou que o município se sente honrado com a parceria. “Vocês estão fazendo a diferença e são o futuro de nosso município. Parabéns e muito sucesso nesta jornada”, falou aos jovens.

JOVENS APRENDIZES DE SANTA CRUZ DO SUL
Cássio Augusto Roesch
Daniel Faust
Denise Faust
Elias Daniel da Silva
Jackson Luis da Silva Henckes
Éverton Luiz H. Schneiders
Fernanda Lais Hauth
Indyara Beatriz do Nascimento
Isabela B. Müller Schwengber
Josiane Carine Sehn
Juliana Beier
Karolini Lawisch Horbach
Oscar Peiter
Simoni Kappel
Stefani Iasmin Neumann
Tatiane Tais Bender
William Daniel Muller

PARA LEMBRAR
Em 2017 o Instituto Crescer Legal formou 84 adolescentes no curso “Empreendedorismo em Agricultura Polivalente – Gestão Rural:
· 27 de junho, Candelária (Linha do Rio)
· 29 de junho, Vera Cruz (Vila Progresso)
· 26 de setembro, Venâncio Aires (Linha Taquari Mirim)
· 31 de outubro, Vale do Sol (Centro)
· 07 de dezembro, Santa Cruz do Sul (Boa Vista)

PRÓXIMOS PASSOS
Sete novas turmas iniciam o curso em fevereiro de 2018, todas em municípios gaúchos:
· Boqueirão do Leão (Sede)
· Candelária (Picada Escura)
· Santa Cruz do Sul (Monte Alverne)
· Sinimbu (Pinhal Santo Antônio)
· Vale do Sol (Alto Castelhano)
· Venâncio Aires (Linha Hansel)
· Vera Cruz (Vila Progresso)

SAIBA MAIS SOBRE O CURSO – Os jovens foram selecionados entre as famílias de produtores rurais das localidades com o auxílio dos orientadores e instrutores das empresas associadas ao Instituto Crescer Legal. O curso teve duração de um ano, com 4 horas diárias de segunda a sexta-feira, totalizando 920 horas de atividades teóricas e práticas em gestão. Toda a carga horária foi cumprida na instituição parceira, junto à família, na comunidade, em visitas técnicas e viagens pedagógicas. No programa das atividades estiveram o estudo e análise das propriedades rurais, diagnóstico do município e da região com estudos dos arranjos produtivos locais e mapeamento das parcerias locais e alianças estratégicas. Os adolescentes também desenvolveram trabalhos em grupo envolvendo as famílias e a comunidade e concluíram a aprendizagem com estudos de viabilidade de desenvolvimento de produtos de gestão no meio rural.

Share

Add a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *