Por dentro da safra: um problemão
|Por: Giovane Luiz Weber, produtor de tabaco
Fumicultores do Vale do Rio Pardo ainda estão às voltas com a granizada que atingiu a região na noite de terça-feira da semana passada. Centenas e centenas de lavouras foram parcial ou totalmente prejudicadas. Segundo a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), o sistema de mutualidade recebeu 3,8 mil notificações desde então no eixo que vai de Agudo a Venâncio Aires. Venâncio, aliás, foi o município mais atingido, com perdas em mais de 600 plantações. Em todo o Sul do Brasil já foram 9,1 mil ocorrências de granizo em lavouras de tabaco nesta safra, informou a Afubra na Gazeta do Sul de ontem.
A céu aberto
Toda profissão é honrosa e todo o trabalho é digno. Mas ser produtor é estar pronto para o imprevisto e, muitas vezes, para o prejuízo que vem do céu. Em especial no caso dos fumicultores, que ficam com sua produção muito exposta em um período no qual a queda de granizo é relativamente comum no Sul do Brasil. Nos resta sempre torcer e rezar para que o pior não aconteça. Depois de uma safra com uma relativa queda no número de ocorrências na região, a atual já deixou muito fumicultor de cabelo em pé.
Perda quase total
Um exemplo é Clério José Kroth, 29 anos, de Linha Sapé, no interior de Venâncio Aires (foto abaixo). Os pais dele plantam tabaco há 50 anos e ele há sete. Está na atividade porque gosta do que faz e porque o tabaco assegura boa renda à família. O que Kroth não contava é que, neste ano, teria a pior granizada de sua lavoura. Perdeu quase tudo. Fui até lá conversar com ele e o cenário é apavorante. No vídeo abaixo e que também está na página Fumicultores do Brasil, Clério Kroth conta que nunca havia passado por isso. “Já tivemos granizo, mas sempre perdemos pouco. Agora vemos a lavoura totalmente destruída”, lamentou, enquanto esperava os avaliadores da Afubra.
Impacto na cidade
O sistema de mutualidade da Afubra é o que literalmente salva os produtores em um momento como este. A indenização cobre os custos e ainda garante uma renda para a família. Mas mesmo assim há um impacto financeiro que repercute na cidade no início do próximo ano. Com uma renda menor, o produtor e sua família conseguirão investir menos na propriedade e na casa, injetando menos dinheiro no comércio.
Somos fortes
Episódios como o sofrido semana passada por Clério José Kroth e outros tantos do interior de Venâncio mostram como o fumicultor é forte. Corremos o risco de ver todo o nosso trabalho destruído pelo granizo e mesmo assim lá estamos nós, já torcendo para que a próxima safra seja melhor. Isso sem uma ajuda sequer do governo, que insiste em sempre dificultar nossas vidas. Arrecada bilhões em impostos com o tabaco, mas não oferece um apoio sequer para o fumicultor, nem mesmo quando a lavoura é destruída pelo granizo.