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O tradutor do tabaco

Santa Cruz do Sul/RS – Guido Jungblut, aos 74 anos, segue trabalhando na mesma área em que iniciou sua trajetória profissional há mais de 45 anos. Diariamente, ele se desloca para o escritório que mantém no Centro de Santa Cruz do Sul. É onde cumpre horário rigoroso para dar conta das traduções português-inglês que presta aos clientes. Um desses é a Editora Gazeta, que publica os anuários sobre o agronegócio, inclusive do Tabaco. Por conta do ofício, Jungblut percorreu o mundo, principalmente para traduzir relatos referentes ao cultivo do tabaco a diferentes nacionalidades.

Ele recorda que o trabalho para o setor começou de forma lenta, mais ou menos por acaso, na década de 1970. Graduou-se em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). “No início eram apenas aulas de inglês em algumas fumageiras durante o dia, e à noite lecionava no curso de Letras da Unisc”, relembra. Depois foram surgindo pequenas traduções, tanto escritas quanto orais, que se intensificaram com o tempo.

Na década de 1990, o então professor e tradutor, também passou a traduzir os congressos da Associação Internacional dos Produtores de Tabaco (ITGA), sediada em Lisboa, capital de Portugal, entidade da qual a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) é associada. “Eu ia com a Afubra, mas era contratado e pago pela ITGA”, esclarece. As viagens para a Afubra foram poucas, em geral para reuniões específicas. Também atuou na primeira reunião internacional sobre o trabalho infantil, em Nairobi, no Quênia. Em outra ocasião, trabalhou na Organização Mundial da Saúde (OMS), em Genebra, na Suíça.

Hoje, as viagens por conta da ITGA pararam por contenção de gastos e as atividades fora da assembleia, como visitas aos produtores e às empresas de tabaco, não ocorrem mais. A partir de 2014, o evento da associação foi reduzido para dois dias e foram contratados tradutores locais. “Durante mais de 20 anos foram uma, duas e, às vezes, três viagens ao ano, quase sempre por conta da ITGA”, relembra.

Os congressos sempre eram promovidos em países diferentes. Isso lhe possibilitou estar em todos os continentes, com exceção da Oceania. As assembleias foram realizadas na África, Índia, China, Indonésia, Estados Unidos, Canadá, Europa, América Central e América do Sul. Um número maior ocorreu na África e nos Estados Unidos. “A gente fica em uma cabine, com microfone na frente e fones de ouvido. Tudo que é dito em inglês precisa ser passado para o português e vice-versa, tudo simultaneamente. É muito cansativo”, explica Guido. Depois do evento, o trabalho continuava, na medida em que alguém precisava de um tradutor para se comunicar.

Guido Jungblut durante tradução de evento do setor
Guido Jungblut durante tradução de evento do setor

SEMELHANÇAS

“Não há grandes diferenças entre o Brasil e os demais países que cultivam tabaco. Todos plantam com um fim só: vendê-lo pelo melhor preço possível”, compara Guido. Os métodos de plantio, colheita e secagem são praticamente iguais em todas as nações produtoras.

Segundo ele, a ITGA continua abordando nos congressos do tabaco em geral, mas com ênfase na produção. “Os produtores de tabaco só plantam a cultura porque existem grandes corporações que transformam suas safras em cigarros e os vendem no mercado”, defende. Também são debatidas questões relacionadas às campanhas contra o cigarro, aumento ou diminuição do número de fumantes no mundo, compra de tabaco pelas empresas e outros assuntos semelhantes.

“Os países que produzem tabaco são sempre os mesmos”, constata. Enquanto, em alguns lugares o plantio vem aumentando, em outros vem regredindo. Por exemplo: até 30 ou 40 anos atrás, o Zimbabwe colhia uns 250 milhões de quilos. Porém, a produção do país caiu para uns 60 milhões de quilos, em função de problemas internos. Agora, o Zimbabwe está lentamente voltando aos patamares antigos.

Guido Jungblut diz que nada de especial lhe chamou a atenção nestas idas e vindas ao exterior. Porém, observa que em toda a parte os governos se manifestam publicamente contra o consumo do tabaco, estabelecendo todas as formas de restrição ao cigarro. “Mas todos, sem exceção, estão avidamente atrás dos impostos que o tabaco gera”, aponta.

TABACO BRASILEIRO

Aos produtores do Brasil, o tradutor do tabaco recomenda que tenham tranquilidade em relação à concorrência com outros países. Há uns dez anos, acredita que tenha sido na assembleia realizada na Croácia, um especialista em tabaco antecipou que alguns países teriam que ajustar os volumes de produção. Para o Brasil, que na época produzia quase 900 milhões de quilos, projetou que a quantidade deveria voltar ao patamar de mais ou menos 500 milhões de quilos. “Ainda não diminuímos tanto, mas acho que estamos a caminho”, avalia.

Além disso, revela que as fábricas de cigarros do mundo sempre vão precisar do tabaco colhido aqui, pois têm propriedades que o produto de outros países não apresentam. “Os consumidores do mundo todo já se acostumaram ao sabor que advém destas propriedades. Por isso, mesmo que outros países produzam tabaco mais barato, o produto colhido aqui é um componente indispensável para garantir este sabor”, explica.

Cleonice de Carvalho
cleonice@editoragazeta.com.br
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